O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Colheita do bem — Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano (Neio Lúcio) e outros


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O quadro do dia 12 de abril

17/04/1951


1 Meus queridos filhos, Deus abençoe a vocês todos, conferindo-lhes muita saúde, paz e alegria, na estrada edificante de sempre.

2 Como não podia deixar de ser, reporto-me à nossa experiência de quinta-feira última, com a visita de que fomos objeto. Estimei realmente observar a posição receptiva de sua mente, meu caro Rômulo, no setor da luta aberta. Suportou você, com a calma necessária, os golpes mentais e verbais do “núcleo perturbador” e desejo cumprimentá-lo pela galhardia.

3 Tudo correu magnificamente sob o ponto de vista moral, porque um lobo controlado é constrangido a reconhecer a verdade, ainda mesmo quando não consiga aceitá-la. E tivemos a felicidade de abrir as portas a uma situação dessa natureza, desfrutando, porém, para nosso contentamento, a companhia de abnegados companheiros de luta e de ideal. Graças a Deus, não nos faltou esse reconforto para a nossa edificação.

4 Você sabe como é difícil transformar sem cáusticos adequados o fundo escuro de um vaso comum. Assim ocorre ao coração humano, em se prendendo às ambições desabridas. Com a argumentação amiga e conselheiral, é sumamente difícil a nossa penetração em seus ângulos mais íntimos. E por isso, embora o nosso esforço demonstrativo, não improvisamos para esse tipo de criaturas as convicções de que necessitam.

5 Mas a purificação, a transformação e o reajuste são efetivamente obras de boa vontade, em cuja execução não prescindiremos do tempo. Aliás, é justo considerar que a nossa conquista foi grande. Conseguimos criar naquele espírito estranho e desvalido de mais altas aspirações um novo entendimento acerca da administração pública, impondo-lhe bastante material de pensamento e meditação no silêncio retificador, mas não podemos esquecer a gravidade das horas que atravessamos. Tive a ideia de que nos achávamos perante um problema infantil. Devíamos sossegar uma criança irada e de maus princípios, tolerando-lhe as intromissões com espírito de carinho e entendimentos, porque um “acidente legal” lhe conferiu dignidades somente compatíveis com a madureza pensante.

6 Imaginemos o quadro do dia 12 transportado ao cenário nacional e reflitamos na insegurança de nossas mais veneráveis instituições diante do espaço e do tempo. Histórica e politicamente falando, o assunto é de pesado relevo, porque o mundo inteiro está meditando nas responsabilidades do “hoje” e do “amanhã”. O século presente, que nos reuniu mais fortemente de novo, é um período agitado. Dele possuímos já mais de cinquenta anos de guerra e transformação em bases sanguinolentas de martirização humana. O que virá dentro da metade dele é assunto inabordável à nossa imaginação, entretanto, em nossa terra afortunada e feliz, observamos o arbítrio infantil acima da circunspecção da experiência e a aventura pairando sobre a responsabilidade. Enfim, habituemo-nos a reconhecer que a obra é do Cristo e peçamos a ele nos fortaleça para o serviço que nos cabe desenvolver e efetuar.

7 Você agiu acertadamente descerrando a porta do seu trabalho à observação do acusador. É pena que ele não possa tomar a sua carga nos próprios ombros, por alguns dias. Ficaria menos desenvolto na verbalística menos edificante. Se os que não choram pudessem receber as lágrimas dos que padecem, nos próprios olhos, por algum tempo, a vida na Terra seria mais humana e mais compreensiva. Há, contudo, compensações intransferíveis na luta e na dor, na ação constante pelo bem e na esfera do otimismo infatigável, que raramente é dado a outrem conhecer. Guarde, pois o seu fardo, que é também nosso, com o orgulho e a alegria que ele nos merece. Retire dele, cada dia, uma nova expressão de estímulo e realização para a tarefa que você foi chamado a executar e aguardemos o futuro. O Cristianismo tem a virtude de converter a nossa cruz em utilidades e bênçãos para todos os que nos cercam. Não temamos. Auxiliemos e sigamos para diante.

8 A sua evocação afetuosa de nosso amigo Mário Carneiro trouxe-o nesta noite até nós. n Está satisfeito e agradece as suas lembranças carinhosas. Vai bem, operando, como é natural, o reajustamento gradativo das ideias de que se fez acompanhado ao nosso plano. Para qualquer expressão de materialismo, ainda mesmo quando rotulado em boas designações doutrinárias, a morte do corpo é problema dos mais surpreendentes, porque quanto mais nos elevamos em conhecimento mais reconhecemos que a “matéria”, na substância em que a manejamos, é algo que cessa de existir como realidade ao nosso olhar. Assim sendo, em qualquer forma de ateísmo dignificado pela filosofia, cultuamos aquilo que praticamente não possui existência verdadeira. Esse enigma tem sido para o nosso admirável companheiro uma incógnita de trato muito complexo. É a vida com o seu infindável cortejo de mutações. Hoje, cremos. Depois, observamos. Em seguida, reajustamos. O pensamento amigo de vocês lhe fará grande bem.

9 Peço-lhes igualmente a vibração especial em favor dos nossos. Ultimamente, tenho estado mais frequentemente com os nossos grupos domésticos no Rio, fortalecendo a todos quanto seja possível. A nossa Marcelina segue encorajadoramente. Muito progresso, grande aplicação ao trabalho e maior boa vontade. Seja, pois, a tranquilidade em Cristo a nossa herança de luz para a jornada de sempre no rumo da Vida Superior.

10 Para a nossa estimada Maria, aconselho o uso de Gelseminum e Eupatorium, Ipecacuanha e Lachesis por 5 a 6 dias, para defender-se organicamente. A gripe bate à porta de vocês e convém, quanto nos seja possível, correr os ferrolhos.

11 A vocês todos deixo-lhes o meu grande abraço. João de Deus, presente, esperará por vocês na quinta para os habituais estudos evangélicos. E eu, reunindo-os em meus braços, com a saudade e a dedicação, afeto e carinho de todos os dias, sou o papai muito amigo que vive junto de vocês, com todo o coração,


A. Joviano



[1] Nota da organizadora: Mário Carneiro era um amigo da família Joviano, que desencarnou em 1946.


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