O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A Vida Escreve — Hilário Silva — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 2ª Parte


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Visão de Eurípedes

1 Começara Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da mediunidade, em Sacramento, no Estado de Minas Gerais, a observar-se fora do corpo físico, em admirável desdobramento, quando, certa feita, à noite, viu a si próprio em prodigiosa volitação. 2 Embora inquieto, como que arrastado pela vontade de alguém num torvelinho de amor, subia, subia…

Subia sempre.

3 Queria parar, e descer, reavendo o veículo carnal, mas não conseguia. Braços intangíveis tutelavam-lhe a sublime excursão. 4 Respirava outro ambiente. Envergava forma leve, respirando num oceano de ar mais leve ainda… 5 Viajou, viajou, à maneira de pássaro teleguiado, até que se reconheceu em campina verdejante. 6 Reparava na formosa paisagem, quando, não longe, avistou um homem que meditava, envolvido por doce luz.

7 Como que magnetizado pelo desconhecido, aproximou-se…

Houve, porém, um momento, em que estacou, trêmulo.

Algo lhe dizia no íntimo para que não avançasse mais..

8 E num deslumbramento de júbilo, reconheceu-se na presença do Cristo.

Baixou a cabeça, esmagado pela honra imprevista, e ficou em silêncio, sentindo-se como intruso, incapaz de voltar ou seguir adiante.

9 Recordou as lições do Cristianismo, os templos do mundo, as homenagens prestadas ao Senhor, na literatura e nas artes, e a mensagem d’Ele a ecoar entre os homens, no curso de quase vinte séculos…

10 Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar…

Grossas lágrimas banhavam-lhe o rosto, quando adquiriu coragem e ergueu os olhos, humilde.

11 Viu, porém, que Jesus também chorava…

12 Traspassado de súbito sofrimento, por ver-lhe o pranto, desejou fazer algo que pudesse reconfortar o Amigo Sublime… Afagar-lhe as mãos ou estirar-se à maneira de um cão leal aos seus pés…

Mas estava como que chumbado ao solo estranho…

13 Recordou, no entanto, os tormentos do Cristo, a se perpetuarem nas criaturas que até hoje, na Terra, lhe atiram incompreensão e sarcasmo…

14 Nessa linha de pensamento, não se conteve. Abriu a boca e falou, suplicante:

— Senhor, por que choras?

15 O interpelado não respondeu.

16 Mas desejando certificar-se de que era ouvido, Eurípedes reiterou:

— Choras pelos descrentes do mundo?

17 Enlevado, o missionário de Sacramento notou que o Cristo lhe correspondia agora ao olhar. E, após um instante de atenção, respondeu em voz dulcíssima:

— Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor. 18 Choro por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam…

19 Eurípedes não saberia descrever o que se passou então.

Como se caísse em profunda sombra, ante a dor que a resposta lhe trouxera, desceu, desceu…

E acordou no corpo de carne.

Era madrugada.

20 Levantou-se e não mais dormiu.

E desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a divina revelação que lhe vibrava na consciência, entregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso sequer de um dia, servindo até à morte.


Hilário Silva


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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