O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Final

Augusto vive — Augusto Cezar Netto


24

Filho adotivo

1 Compreendo o que a senhora quer dizer. Manejando as melhores palavras, a sua sensibilidade feminina contorna o desgosto que lhe corrói os sentimentos.
A senhora queria um filho adotivo e o seu marido, inesperadamente, foi constrangido por amigos a trazer-lhe um meninão crescido, em desacordo com o seu ideal.
A senhora aceitou a decisão do esposo mas vem adiando a adoção definitiva.
E, com isso, a prezada irmã, há dois anos, tem no lar um rapazinho difícil, complicado e rebelde.

2 Além da pedreira de inquietações que lhe impõe, parece um flagelo para os vizinhos. Aborrece crianças, espanca animais, destrói plantas e apedreja vidraças. Expressa-se em palavrões que lhe estragam as horas e tem horror ao banho, persistindo em manter a cabeleira em labirinto. O esposo, dedicado ao escritório, não lhe acompanha os momentos difíceis e quando a senhora lhe expõe os seus cuidados, ei-lo a lhe pedir paciência e tolerância.
Creio que por isso é que lhe recebo as perguntas confiantes e afetuosas:
— “Que fazer, meu amigo? Estou farta… Só por não ter filhos propriamente meus, devo suportar este que é um retrato da indisciplina?”

3 Entendo os seus contratempos, no entanto, coloco-me no lugar desse menino infeliz, a fim de lhe rogar benevolência para ele.
A estimada irmã, em sua carta, se declara profundamente cristã, sempre apoiada na confiança em Jesus.
Por que não dialogarmos na base da fé?
Pensando nisso, peço-lhe permissão para transmitir-lhe uma historinha das que coleciono na Vida Espiritual.

4 Conta-se que certa dama, extremamente ligada ao Cristo, foi impelida a acolher na própria residência um rapazelho de maus costumes, que passou a arrasar-lhe a tranquilidade.
O pequeno era um feixe de impulsos lamentáveis, ao mesmo tempo que assombrava pelo absoluto desrespeito à higiene.
A senhora começou a orar, pedindo a Jesus que a livrasse dele de maneira que o remorso não lhe pesasse na consciência.

5 Foi assim que, em certa noite, sonhou que se achava num campo engrinaldado de relva, onde Jesus se achava com uma legião de garotos.
Ela abeirou-se do Eterno Amigo e cientificou-se de que todos os adolescentes, ali, se lhe faziam tutelados.
Sinceramente enternecida, dirigiu-se ao Divino Mestre e inquiriu:
— Senhor, que posso fazer para lhe ser útil? Não poderei ser mãe espiritual ou tutora, pelo menos de um dos seus protegidos?

6 Jesus respondeu afirmativamente e complementou:
— Tenho aqui um pequeno companheiro a quem muito amo e só o entregaria a quem de igual modo me quisesse… Poderia o seu coração de mulher recebê-lo por filho, qual se fosse a mim próprio?
— Como não, Senhor? — Respondeu a dama lisonjeada. Estou pronta.

7 O Divino Benfeitor solicitou a presença do garoto a que se referia e apresentou-o.
A senhora espantada notou que aquele era o mesmo rapaz agressivo e menos simpático que o marido lhe trouxera para dentro de casa.
Fitou-o de alto a baixo sem esconder o próprio desagrado e, observando que Jesus a contemplava significativamente, voltou a perguntar:
— Senhor, por que devo ficar com este e não outro?

8 O Cristo sorriu e considerou, por fim:
— Porque se a senhora que diz amar-me não puder aceitar a ele, a quem tanto amo, já sei que ninguém mais o aceitará.

9 Nesse justo instante, a dama despertou em sua própria casa, guardando o ensinamento e, desde aquele dia, acolheu o jovem com carinho e tolerância, reconhecendo que a renovação dele, em bases de amor, era o serviço que Jesus lhe reservava.

10 Ai está o que lhe posso dizer com referência à sua carta sobre a adoção de um garoto desventurado e difícil.
O resto, creio eu que a senhora interpretará.


Augusto Cezar


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir