O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Antologia dos Imortais — Autores diversos — 2ª Parte


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Lulu Parola


CONFISSÃO

1 Quando a cela de carne vira pó,
A gente volta vivo para cá, n
Lembrando com saudade de dar dó
Essa boia daí que, aqui não há…


2 Moqueca, caruru, mãe-benta, efó,
Quibebe, canjiquinha, munguzá,
Sequilhos, abará, manuê, bobó,
Tutu, acarajé e vatapá…


3 Vivo morto de fome por aqui!
Para que eu não embirre igual guri,
É preciso ter muita e muita fé…


4 Puxa, meu pessoal! que sururu!
Ouçam meu coração que fala nu:
Cuidado, pois o garfo dá banzé!


TEATRO

1 Quanto caboclo iludido
No esforço de ovacionar!
Quanto tempo, em vão perdido!
Mas, amanhã, sem ruído,
Dona Morte vai chegar!…


2 Vejam vocês, minha gente,
Que teatro original!
Dentro dele quem não sente
O poder da nossa mente,
Nossa cultura ideal?


3 Quanta buzina que soa!
Quantos carros em ação! n
Vejam só quanta pessoa,
Gente rica e gente à-toa…
Hoje é dia de função!


4 Que moderna arquitetura!
Colunatas no jardim,
Decoração, escultura,
E paredes com pintura
De uma beleza sem fim!


5 Brilha a riqueza excessiva!
Luz solar em profusão.
Muita música festiva,
E criança que se esquiva
Circulando no saguão.


6 Mas em meio ao vozerio,
Rápido, surge um senhor
Em pleno palco vazio.
Silêncio quase sombrio
No recinto encantador.


7 A exibição que se espera
Afinal vai começar!
O povo que se aglomera
Olha o ator de cara austera,
Ele agora vai falar!


8 Surgirão flores e cenas?
Arte e ciência também?
Montagens grandes, pequenas?
Bons episódios que apenas
Falem da força do bem?


9 Nada disso! Ai nossos calos!
Escutem! Todos vão ver!
Nem gritos e nem abalos!
É a grande briga de galos,
De matar ou de morrer!…


10 Quanto caboclo iludido
No esforço de ovacionar!
Quanto tempo, em vão, perdido!
Mas, amanhã, sem ruído,
Dona Morte Vai chegar!… n


LULU PAROLA (ALOÍSIO Lopes Pereira DE CARVALHO) — Devotado jornalista, e poeta de humor fino e original. Manteve, de 1891 a 1919, uma seção diária de versos humorísticos no Jornal de Notícias, de Salvador, intitulada “Cantando e Rindo”, assinando-a Lulu Parola, pseudônimo literário com que se popularizou: Foi um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira nº 2. Deputado estadual. Redator de A Tarde, de 1925 até o dia de sua desencarnação. Florêncio Santos, no seu artigo — Reminiscências da “A Tarde” — estampado no Jornal do Commercio de 28 de Outubro de 1962, assim se referiu a ele: “Homem bom e amigo leal, era Aloísio um chefe de família exemplar. Desprovido de bens materiais, foi um nababo da inteligência e do idealismo.” (Salvador, Bahia, 27 de Março de 1866 — Salvador, 2 de Fevereiro de 1942.)

BIBLIOGRAFIA: Cantando e Rindo, 1ª Série; Cantando e Rindo, 2ª Série; etc.


Nota. Apreciando o estilo do poeta baiano, recordemos a 5ª estância de “O Brasil” (ap. Aloysio de Carvalho Filho, Col. Poet. Bahianos), lançado por ele, quando no Plano Físico:


“Que casa grande e bonita!

Vocês, crescendo, verão!…

E a gente que nela habita,

Para acolher a visita,

Tem sempre aberto o portão!…”



[1] a gente. Natural ao poeta esta locução pronominal de cunho popular.

[2] Poliptoto: “Quanta… / Quantos…”


(Psicografia de Waldo Vieira)


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