O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Almas em desfile — Hilário Silva — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


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Renovação

1 Suspirava pela nomeação para o cargo público que lhe daria quarenta mil cruzeiros por mês. Conquistara o diploma de bacharel. Numa noite, acalentando o desejo de instituir várias obras de beneficência em favor da Humanidade sofredora, Raimundo Perez orava, extático.

2 Queria subir. Desvencilhar-se do corpo físico.

Entraria em contato com a Esfera Superior e formularia a súplica que acalentava no íntimo.

Aspirava ao título de benemérito no campo da Doutrina que professava.

3 Mas precisava de dinheiro. Muito dinheiro.

Quem sabe? Somente os Espíritos superiores poderiam dissolver as dificuldades que se lhe antepunham ao grande intento, e pensava:

— “Nomeado com os vencimentos de quarenta mil cruzeiros mensais, poderia encontrar o necessário começo… Em seguida, ganharia influência, atrairia poderosos, escalaria a montanha do ouro e granjearia importância política para cumprir a missão…”

4 Embalado em deliciosas miragens, Perez dormiu e viu-se efetivamente desligado da máquina corpórea.

Reconheceu-se subindo, subindo… até que se viu em amplo salão, à frente de nobre instrutor que o recebeu entre bondoso e severo.

A breves momentos inteirou-se de toda a situação.

5 Alcançara grande instituto do Plano Superior, que supervisionava várias tarefas espíritas na esfera dos homens.

Contudo, não era ali o único visitante.

Em torno, enorme multidão. Muitas vozes, muita gente.

6 Alguém, mais categorizado que ele mesmo para pedir, ergueu-se diante do benfeitor e, com sublime sinceridade, rogou informes sobre a razão de tantos fracassos entre os companheiros do Espiritismo, na Terra.

Era um missionário da verdadeira fraternidade, buscando piedosamente recursos de amparo moral para os próprios irmãos na fé.

7 Ninguém ousou adiantar-se-lhe aos rogos.

A petição era comovente demais para que outros requerimentos lhe tomassem a dianteira.

8 Foi então que o generoso mentor tomou a palavra e falou com franqueza:

— “Com base em inúmeros dados estatísticos colhidos junto aos nossos companheiros na Terra, podemos esclarecer que grande número dos profitentes do Espiritismo, na carne, tem fracassado devido às seguintes atitudes:

— Querem dinheiro e dominação…

— Querem autoridade e influência.…

— Querem saúde física perfeita…

— Querem a compreensão alheia integral…

— Querem as mais altas concessões da mediunidade, sem esforço para obtê-las…

9 Tudo isto porque se esquecem de que, na Terra, devemos estar cientes do ensino de Jesus, que afirmou categórico, quando esteve na carne: — “Meu reino não é deste mundo.” ( † )

10 O benfeitor teceu ainda algumas considerações sobre o tema e, ao acabar de falar, Raimundo sentiu-se desamparado em si mesmo.

Guardava a sensação de quem via o solo a fugir-lhe dos próprios pés.

11 E sentiu-se cair… do alto, de muito alto… E acordou.

Identificara-se, mas visceralmente transformado.

Conservava a impressão de prosseguir envergonhado de si mesmo.

12 Acompanhou a mãezinha ao mercado, ajudando-a, prestativo. Não mais falava na sua nomeação com o entusiasmo anterior, e a palavra dinheiro passou a ter, para ele, importância bem secundária.

13 À vista de tudo isto, D. Conceição, a genitora, chamou os dois filhos mais velhos a longa conversação e assentaram juntos que um psiquiatra devia ser consultado.

Anotando a súbita renovação de Raimundo, todos os familiares julgaram que o pobre rapaz ficara perturbado da razão…


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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