O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VIII — Julho de 1865.

(Idioma francês)

QUESTÕES E PROBLEMAS.


Cura moral dos encarnados.

(Sumário)

1.Muitas vezes vemos Espíritos de natureza má cederem muito prontamente sob a influência da moralização e se melhorarem. Podemos agir do mesmo modo sobre os encarnados, mais com muito mais trabalho. Por que a educação moral dos Espíritos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados?

Esta pergunta foi motivada pelo seguinte fato. Um rapaz, cego há doze anos, tinha sido recolhido por um espírita devotado, empenhado em curá-lo pelo magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que a cura era possível. Mas o rapaz, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade de que era objeto, e sem a qual teria ficado sem asilo e sem pão, só teve ingratidão e mau procedimento, dando provas do pior caráter.


2. — Consultado a respeito, respondeu o Espírito São Luís:


“Como muitos outros, esse jovem é punido por onde pecou e suporta a pena de sua má conduta. Sua enfermidade não é incurável, e uma magnetização espiritual, praticada com zelo, devotamento e perseverança, certamente teria êxito, auxiliada por um tratamento médico destinado a corrigir seu sangue viciado. Já haveria uma sensível melhora em sua visão, que ainda não está completamente extinta, se os maus fluidos de que está cercado e saturado não opusessem um obstáculo à penetração dos bons fluidos que, de certo modo, são repelidos. No estado em que se encontra, a ação magnética será impotente, enquanto não se desembaraçar, por sua vontade e sua melhoria, desses fluidos perniciosos.

“É, pois, uma cura moral que se deve obter, antes de buscar a cura física. Só um retorno sério sobre si mesmo poderá tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador, que os bons Espíritos se desvelarão em secundar. Caso contrário, deve-se esperar que perca o pouco de luz que lhe resta e que sofra novas e mais terríveis provações.

“Agi, pois, sobre ele como fazeis com os maus Espíritos desencarnados, que quereis reconduzir ao bem. Ele não está sob a ação de uma obsessão: é sua natureza que é má e, além disso, perverteu-se no meio onde viveu. Os maus Espíritos que o assediam só são atraídos pela similitude existente entre eles; à medida que se melhorar, eles se afastarão. Só então a ação magnética terá toda a sua eficácia. Dai-lhe conselhos; explicai-lhe sua posição; que várias pessoas sinceras se unam em pensamento para orar, a fim de atrair para ele influências salutares. Se as aproveitar, não tardará a lhes experimentar os bons efeitos, pois será recompensado por um mais sensível na sua posição.”


3. — Esta instrução nos revela um fato importante, o do obstáculo oposto pelo estado moral, em certos casos, à cura dos males físicos. A explicação acima é de uma lógica incontestável, mas não poderia ser compreendida pelos que só veem em toda parte a ação exclusiva da matéria. No caso em tela, a cura moral do paciente encontrou sérias dificuldades; foi o que motivou a pergunta acima, proposta na Sociedade Espírita de Paris.  † 

Foram obtidas seis respostas, todas concordando perfeitamente entre si. Citaremos apenas duas, para evitar repetições inúteis. Escolhemos aquelas em que a questão é tratada com mais desenvolvimento.


I.


4. — Como o Espírito desencarnado vê manifestamente o que se passa e os exemplos terríveis da vida, compreende com tanto mais rapidez o que o estimula a crer ou a fazer. Esta a razão por que não é raro vermos Espíritos desencarnados dissertarem sabiamente sobre questões que, em vida, estavam longe de os comover.

A adversidade amadurece o pensamento. Esta expressão é verdadeira sobretudo para os Espíritos desencarnados, que veem de perto as consequências de sua vida passada.

A negligência e o preconceito, ao contrário, triunfam nos Espíritos encarnados; as seduções da vida e, mesmo, os seus desenganos, dão-lhes uma misantropia ou uma completa indiferença pelos homens e pelas coisas divinas. A carne lhes faz esquecer o Espírito; uns, essencialmente honestos, fazem o bem evitando o mal, por amor do bem, mas a vida de sua alma é quase nula; outros, ao contrário, consideram a vida como uma comédia e esquecem seu papel de homens; outros, enfim, completamente embrutecidos e no último degrau da espécie humana, nada vendo além, não pressentindo mesmo nada, entregam-se, como animais, aos crimes bárbaros e esquecem sua origem.

Assim, uns e outros, pela própria vida, são arrastados, ao passo que os Espíritos desencarnados veem, escutam e se arrependem com mais boa vontade.


Lamennais. n

(Médium: Sr. A. Didier.)   


II.


5. — Quantos problemas e questões a resolver antes que seja realizada a transformação humanitária conforme as ideias espíritas! a da educação dos Espíritos encarnados, do ponto de vista moral, está neste número. Os desencarnados estão desembaraçados dos laços da carne e não mais lhe sofrem as condições inferiores, ao passo que os homens, acorrentados numa matéria imperiosa do ponto de vista pessoal, se deixam arrastar pelo estado das provas no qual estão mergulhados. É em razão da diferença entre as diversas situações que se deve atribuir a dificuldade que experimentam os Espíritos iniciadores e os homens encarregados de melhorarem rapidamente e em algumas semanas, as criaturas que lhes são confiadas. Os Espíritos, ao contrário, aos quais a matéria já não opõe suas leis, nem mais fornece meios de satisfazer seus maus apetites e que, por conseguinte, não têm mais desejos insaciáveis, são mais aptos a aceitar os conselhos que lhes são dados. Talvez respondam com esta pergunta, que tem sua importância: Por que não ouvem os conselhos de seus guias do espaço e esperam os ensinamentos dos homens? Porque é necessário que os dois mundos, visível e invisível, reajam um sobre o outro e que a ação dos humanos seja útil aos que viveram, como a ação da maior parte destes é benéfica aos que vivem entre vós. É uma dupla corrente, uma dupla ação, igualmente satisfatória para esses dois mundos, que estão unidos por tantos laços.

Eis o que julgo dever responder à pergunta levantada por vosso presidente.


Erasto. n

(Médium: Sr. d’Ambel.)   



[1] [v. Lamennais.]


[2] [v. Erasto.]


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