O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano V — Outubro de 1862.

(Idioma francês)

Membros honorários da Sociedade de Paris.

(Sumário)

1. — Para testemunhar sua simpatia e gratidão às pessoas que prestam relevantes e efetivos serviços à causa do Espiritismo, por seu zelo, devotamento, desinteresse e, se necessário, pelos perigos a que se expõem, a Sociedade Espírita de Paris  †  lhes confere o título de membro honorário. Ela se compraz, assim, em reconhecer o concurso que emprestam à obra comum os chefes e fundadores das sociedades ou grupos, que se colocam sob a mesma bandeira e que são dirigidos conforme os princípios do Espiritismo sério, a fim de obterem resultados morais. Os motivos que a guiam são menos as palavras que os atos. Ela as conta não só em várias cidades da França e da Argélia, mas em países estrangeiros: Itália, Espanha, Áustria, Polônia, Constantinopla,  †  América, etc.

O Sr. Dombre, de Marmande,  †  que desde sua iniciação no Espiritismo não tem cessado de se fazer, abertamente, seu propagandista e defensor, merecia essa distinção. Anunciando-lhe a sua nomeação, nós lhe havíamos pedido autorização para publicar sua carta ao Padre F… (Ver artigo do mês anterior.) Sua resposta merece ser citada; mostra de que maneira certos adeptos compreendem o seu papel.


“Marmande, 10 de agosto de 1862.

“Senhor Allan Kardec

“Aceito, reconhecido, o título de membro honorário da Sociedade Espírita de Paris. Para corresponder a uma tal distinção, que obriga, e ao testemunho de simpatia da parte dos membros dessa sociedade, que houveram por bem me conferir esse título, farei sempre e por toda parte esforços para ajudar, dentro de minhas possibilidades, a propagação de uma doutrina que faz minha felicidade na Terra e fará também, em tempo mais ou menos remoto, a daqueles que querem conservar ainda a venda da incredulidade.

“Não vejo nenhum obstáculo, nenhum inconveniente na publicação de minha resposta ao diretor da Abeille Agénaise e de minha carta ao Padre F… Minha carta a este último está assinada: Um católico. Creio que nenhum leitor da Revista irá pensar que o autor tenha querido ocultar-se sob o véu do anonimato: a consideração humana não se apoderou de mim. Rio dos que riem, porque estou com a verdade. Todo bom espírita deve, por seu exemplo, dar energia aos adeptos tímidos e lhes ensinar a empunhar alto e firme o estandarte de sua crença.

“Dignai-vos, senhor, apresentar meus sinceros agradecimentos à honrada Sociedade, da qual hoje me congratulo por fazer parte e aceitar, etc.”


Dombre, proprietário.


2. — No que concerne ao Espiritismo, o temor do que dirão? hoje diminuiu singularmente, sendo irrelevante o número dos que ocultam sua opinião. Está limitado àqueles que temem perder uma posição que os faz viver e, neste número, há mais padres do que se pensa; pessoalmente conhecemos mais de cem. Entretanto, em todas as posições sociais, entre os funcionários públicos, oficiais de todas as patentes, médicos, etc., temos notado muita gente que há um ano apenas não se teria confessado espírita e que hoje dele se honra. Essa coragem de opinião, que afronta a zombaria, em primeiro lugar tem como consequência encorajar os tímidos e, em segundo, mostrar que o número de adeptos é maior do que se imaginava; finalmente, impor silêncio aos zombeteiros, surpreendidos ao ouvir, em toda parte, a palavra Espiritismo por pessoas que a gente considera duas vezes antes de ridicularizar. Assim, observa-se que os gracejadores, de algum tempo para cá, baixaram singularmente a voz. Mais alguns anos como os que acabam de se escoar e seu papel estará findo, porque, por todos os lados, ver-se-ão ultrapassados pela opinião.

O Sr. Dombre não apenas tem a coragem da opinião, mas, também, a da ação. Ocupa o espaço com determinação e enfrenta os adversários, provocando-os para a discussão. E eis que um jornalista se recusa, a fim de não admitir a sua fraqueza, e um pregador, a quem é oferecida a mais bela ocasião para fazer valer os seus argumentos e dar uma bordoada na doutrina, vai-se embora dizendo que não tem tempo para responder. Não é desertar do campo de batalha? Se ele estivesse seguro de si, se a religião estivesse em jogo, por que não ficaria para abater o adversário? Em semelhante caso, abandonar a partida é perdê-la. Um pregador tem uma vantagem imensa sobre um advogado: é que fala sem contraditor; pode dizer o que quiser e ninguém o refuta. Ao que parece, é dessa maneira que os adversários do Espiritismo entendem a controvérsia.

No momento o Sr. Dombre não foi o único a enfrentar a tempestade com serenidade: Bordeaux, Lyon e muitas outras cidades menos importantes, até mesmo simples vilarejos nos têm oferecido numerosos exemplos, que se multiplicam diariamente; e por toda parte onde os adeptos mostraram firmeza e energia, os antagonistas moderaram a sua arrogância.

Até agora essa coragem de opinião e de ação é muito mais encontrada nas classes médias e obscuras do que nas elevadas; mas se um homem de nome popular, justamente estimado e honrado, influente por seus talentos, posição ou categoria, abraça um dia a causa do Espiritismo e lhe empunha a bandeira abertamente, ousarão acusar de louco aquele cujo gênio e talento foram exaltados? sua voz não imporá silêncio aos clamores da incredulidade? Pois bem! Este homem surgirá, eu vo-lo asseguro; à sua voz os dissidentes se unirão, cedendo à influência de sua autoridade moral; ele também terá sua missão, providencial como a de todos os homens que fazem avançar a Humanidade, missão geral como muitas outras particulares e locais. Embora mais modestas estas últimas não deixam de ter uma utilidade relativa, porque preparam os caminhos. É então que o Espiritismo entrará com força total nos costumes e os modificará profundamente, porque em tudo as ideias serão diferentes. Nós semeamos e ele colherá, ou melhor, eles colherão, porque muitos outros seguirão suas pegadas. Espíritas, semeai, semeai muito, a fim de que a colheita seja mais abundante e mais fácil. O passado é a vossa garantia do futuro!


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