O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O que é o Espiritismo.

(Primeira versão.)
(Idioma francês)

Capítulo primeiro.


PEQUENA CONFERÊNCIA ESPÍRITA.


SEGUNDO DIÁLOGO. — O CÉTICO.
(Sumário)


Loucura, suicídio e obsessão.


31. O Visitante. — Por considerarem as ideias espíritas como capazes de perturbar as faculdades mentais, certas pessoas acham mais prudente deter a sua propagação.


A. K. — Deveis conhecer o provérbio: “Quando se quer matar um cão, diz-se que ele está raivoso”. Não é, portanto, estranhável que os inimigos do Espiritismo procurem agarrar-se a todos os pretextos; como este lhes pareceu adequado para despertar temores e suscetibilidades, logo o empregaram, embora não resista ao mais ligeiro exame. Ouvi, pois, a respeito dessa loucura, o raciocínio de um louco.

Todas as grandes preocupações do Espírito podem ocasionar a loucura; as ciências, as artes, a própria religião, fornecem o seu contingente. A loucura provém de um certo estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento; estando o instrumento desorganizado, o pensamento fica alterado. A loucura é, pois, um efeito consecutivo, cuja causa primeira é uma predisposição orgânica, que torna o cérebro mais ou menos acessível a certas impressões; e isto é tão real que encontrareis pessoas que pensam excessivamente e não ficam loucas, ao passo que outras enlouquecem sob o influxo da menor excitação.

Existindo uma predisposição para a loucura, assume esta o caráter de preocupação principal, que então se torna ideia fixa. Esta ideia fixa poderá ser a dos Espíritos, num indivíduo que deles se tenha ocupado, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da riqueza, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social. É provável que o louco religioso se tivesse tornado um louco espírita, se o Espiritismo fosse a sua preocupação dominante. É verdade que um jornal disse que se contavam, só em uma localidade da América, de cujo nome não me recordo, 4.000 casos de loucura espírita; mas é também sabido que os nossos adversários têm a ideia fixa de se crerem os únicos dotados de razão, o que não deixa de ser uma mania, como qualquer outra. Para eles, nós somos todos dignos de um hospício e, por conseguinte, os 4.000 espíritas da localidade em questão deviam ser loucos.

Dessa espécie, os Estados Unidos contam centenas de milhares, e todos os países do mundo um número ainda muito maior. Esse gracejo de mau gosto começa a perder força, uma vez que tal moléstia vai invadindo as classes mais elevadas da sociedade. Tem-se feito grande arruído a propósito de um caso conhecido, o de Victor Hennequin. Esquecem, contudo, que antes de se ocupar com os Espíritos, ele já dera provas de excentricidade nas ideias; se as mesas girantes não tivessem então aparecido, as quais, segundo um trocadilho bem espirituoso dos nossos adversários, lhe fizeram girar a cabeça, sua loucura teria seguido outro rumo. É por isso que digo: o Espiritismo não tem privilégio algum nesse sentido; vou, porém, ainda mais longe: afirmo que, bem compreendido, ele preserva contra a loucura e o suicídio.

Entre as causas mais numerosas de superexcitação cerebral, devemos contar as decepções, as desgraças, as afeições contrariadas, que são, ao mesmo tempo, as causas mais frequentes do suicídio. Ora, o verdadeiro espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado [elas lhe parecem tão pequenas, tão mesquinhas para o futuro que o espera; a vida é para ele tão curta, tão fugaz] que as tribulações não passam para ele de incidentes desagradáveis de uma viagem. Aquilo que em outro qualquer produziria violenta comoção, afeta-o mediocremente. Ele sabe, aliás, que os dissabores da vida são provas que servirão para o seu adiantamento, se as sofrer sem murmurar, porque será recompensado conforme a coragem com que as houver suportado. Suas convicções dão-lhe, pois, uma resignação que o preserva do desespero e, por conseguinte, de uma causa incessante de loucura e de suicídio. Ele sabe, além disso, pelo espetáculo que lhe oferecem as comunicações com os Espíritos, a sorte deplorável dos que abreviam voluntariamente os seus dias, e este quadro é capaz de fazê-lo refletir; também é considerável o número dos que por esse meio têm sido detidos nas bordas desse funesto precipício. É um dos grandes resultados do Espiritismo.

Dentre as causas de loucura, devemos também colocar o medo, principalmente do diabo, que já tem perturbado mais de um cérebro. Sabe-se o número de vítimas que se tem feito, ferindo as imaginações fracas com esse quadro que, por detalhes horrorosos, se empenham em tornar mais assustador? O diabo, dizem por aí, só causa medo às crianças e é um freio para corrigi-las; sim, como o papão e o lobisomem, que as contém por algum tempo, tornando-se elas piores que antes quando lhes perdem o medo; mas, em troca desse pequeno resultado, não levam em conta as epilepsias que têm sua origem nesse abalo de cérebros tão delicados.

Não se deve confundir a loucura patológica com a obsessão; esta não provém de nenhuma lesão cerebral, mas da subjugação que Espíritos malévolos exercem sobre certos indivíduos, e que, muitas vezes, têm as aparências da loucura propriamente dita. Esta afecção, muito frequente, não depende de crença alguma no Espiritismo e existiu em todos os tempos. Neste caso, a medicação comum é impotente e mesmo prejudicial. O Espiritismo, ao revelar esta nova causa de perturbação orgânica, nos oferece, ao mesmo tempo, o único meio de vencê-la, agindo não sobre o enfermo, mas sobre o Espírito obsessor. O Espiritismo é o remédio e não a causa do mal.


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